Paralisia Cerebral
Vocês provavelmente viram nos relógios de rua e em outros locais de divulgação sobre o dezembro verde, um mês de conscientização da Paralisia Cerebral. Vamos falar um pouco sobre isso ao longo do mês e de como o ortopedista pode ajudar.
A paralisia cerebral é uma doença que acomete o encéfalo, não progressiva, ou seja, cujo dano no encéfalo não progride com o tempo (mas as deformidades no resto do corpo, sim), em crianças com menos de dois anos e que afeta o sistema osteomuscular (ainda que indiretamente).
Antigamente era muito causada por problemas no trabalho de parto e ao longo da gestação ou por infecções após o nascimento, mas este panorama está mudando atualmente com os melhores cuidados periparto e a vacinação de crianças, e cada vez mais se relaciona à prematuridade.
É importante compreender que a paralisia cerebral não necessariamente provoca comprometimento intelectual. Embora os casos graves sem dúvida tenham dificuldades de aprendizagem, os casos mais leves muitas vezes apresentam intelecto totalmente preservado e funções motoras comprometidas. Sendo assim, temos de tomar muito cuidado com como falamos com eles, pois eles possuem tanta inteligência e sentimentos quanto qualquer um de nós.
Como prevenir a paralisia cerebral?
Tomando o maior cuidado possível durante o período gestacional, controlando doenças maternas e evitando a exposição a agentes infecciosos, como a toxoplasmose e a rubéola, por exemplo. Depois do parto, a vacinação e cuidados com infecções têm se mostrado muito eficazes.
Como acontece?
O fator agressor, seja ele qual for, leva à morte de células cerebrais em áreas específicas.
O cérebro funciona como um grande computador controlando uma série de máquinas. Para que elas funcionem com perfeição e sincronia, é necessário o fluxo constante de informações do cérebro para que cada músculo funcione corretamente. Se ocorre uma pane na área do cérebro que controla determinados grupos musculares (o chip do computador, no exemplo, que comanda as rodas de um lado) ocorre a “paralisia” – que na verdade não necessariamente é uma paralisia per se, mas às vezes, apenas uma fraqueza ou enrijecimento (espasticidade), tão mais grave quanto mais grave a lesão cerebral.
Quais os tipos?
As paralisias são caracterizadas pelos tipos (espásticas, distônicas, atetoicas, etc), que é a forma como os músculos se comportam; e pela topografia, ou seja, o que acometem: apenas um membro (monoplégica); dois membros, sendo mais o braço que a perna (hemiplégica) ou o contrário (diplégica); três membros (triplégica); ou todos os membros (quadriplégica ou tetraparética).
Como classificamos?
Usamos o Gross Motor Function Scale, que vai de 1 a 5, sendo tão pior quanto o valor aumenta, e se relacionando à capacidade da criança de se locomover sozinha.
Quais são os principais acometimentos ortopédicos da criança com paralisia?
Na Paralisia Cerebral do tipo mais comum, que é o diplégico espástico, a criança apresenta contraturas dos membros inferiores que chamamos de: flexo-adução dos quadris (o quadril dobra e fecha, dificultando a higiene); flexo do joelho (o joelho dobra, o que dificulta a marcha); equino do pé (fica na ponta do pé). Quando o braço é acometido, geralmente ocorre flexão do cotovelo do punho e dos dedos, o que muitas vezes provoca úlceras e infecções pela dificuldade de limpeza nos casos graves.
Como o ortopedista atua?
É extremamente importante o tratamento multiprofissional da paralisia cerebral, com intervenções da fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, pediatria, neurologia e, por fim, ortopedia.
Nós realizamos procedimentos que não são curativos, pois não se pode curar a PC, mas melhoram a qualidade de vida. Podemos agir de forma pouco invasiva, aplicando toxina botulínica (o famoso Botox) para relaxar a musculatura. Caso não ocorra melhora, podemos fazer cirurgias de alongamento de tendões, para melhorar a marcha ou a higiene da criança.
Como a luxação dos quadris é muito comum, podemos fazer cirurgias para preveni-la ou para tratá-la, assim melhorando a dor e a marcha da criança.
Nos casos de escoliose, o tratamento cirúrgico previne a sua evolução e melhora o posicionamento da criança na cadeira de rodas.
Outras técnicas, que são geralmente prescritas em associação com a neurologia, são farmacológicas, com medicamentos anticonvulsivantes e relaxantes musculares como o baclofeno. Uma grande perspectiva é o uso da bomba intratecal de baclofeno, que injeta esta medicação direto no sistema nervoso central, assim melhorando sua função e diminuindo seus efeitos colaterais.
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Dr. David Gonçalves Nordon
CRM 149.764
TEOT 15.305